Crónica: “Vida de professor”
Trabalho, Distância, Saudade – eis a Santíssima Trindade que rege a vida de um professor. Os docentes de hoje em dia conhecem melhor que ninguém a vida de nómada que lhes é imposta por regras injustas de um sistema educativo obsoleto, ditadas por essa instituição madrasta à qual se resolveu um dia chamar Ministério da Educação.
Existe o estereótipo de que o professor é um “mandrião”, que trabalha pouco e ganha bem; tal ideia não poderia estar mais longe da realidade. Actualmente, só mesmo quem tem muito “amor à camisola” se dispõe a imitar o caracol e “andar com à casa às costas”. É uma profissão sem dúvida ingrata, cujas gratificações a curto prazo são poucas ou mesmo inexistentes. Mas e que dizer da responsabilidade de formar, instruir, e na maioria das vezes educar os jovens de hoje, que serão os adultos de amanhã? Trata-se de um emprego arriscado; um acto que na altura pareça mínimo e sem consequências pode levar à desistência dos estudos por parte de um aluno. Da mesma forma, quem sabe se uma mudança na maneira de leccionar – o “professor certo” – não levará, digamos, ao despertar para as ciências de um futuro Prémio Nobel da Física? Ou se uma aproximação diferente ao estudo (sempre complexo, embora para uns mais e para outros menos) de Camões será a incubadora para um escritor de sucesso?
Citando Saramago, “o professor é um herói”. Esta afirmação pode soar a falso, mas quem lida de perto com a realidade portuguesa do ensino sabe que se adequa perfeitamente. Sem apoios nem o respeito do próprio Ministério, sujeitos ao desprezo de grande parte da população e, mais grave ainda, muitas vezes sem colocação, os professores são o exemplo mais puro e palpável de solidariedade e voluntariado. Negligenciados pelas instâncias superiores (leia-se o M. E.), espera-se deles que transformem os discentes em génios – sozinhos. É fácil culpar o professor pelas más notas de um aluno; não explica bem, embirrou com o/a menino/a, é “forreta” nas notas… a lista prolonga-se. É também o professor que tem de responder pelas acções dos alunos, chegando a ouvir sermões que deveriam ser dados aos jovens.
Filhos bastardos de um Estado que os ignora, felicito todos aqueles docentes que, ano após ano, conseguem ainda ter forças para concorrerem e desafiarem o sistema que os preferiria ver em casa, por “darem menos problemas”. Felicito todos aqueles que conseguem enfrentar a realidade e esforçar-se por incutir conhecimentos em pessoas que (ainda) não sabem que precisam deles e que não demonstram a mínima gratidão por isso. Felicito todos aqueles que resistem às humilhações e aos contratempos, muitos dos quais criados por quem mais os deveria ajudar – novamente, o Ministério, que parece viver numa utopia. Felicito todos aqueles que optaram pelo ensino, e, sobretudo, felicito todos aqueles que sentem orgulho em dizer: “Sou professor.”.
Ana Rita Alves
No âmbito da disciplina de Língua Portuguesa, uma aluna do décimo ano de escolaridade, com 15 anos, elaborou a presente crónica que, em conjunto com o restante trabalho, lhe valeu 18 valores.
Depois de ter lido, fiquei sem palavras...
Afinal há alunos que percebem... e que nos entendem!
O problema é que são poucos!!
Obrigada, Ritinha!
10 comentários:
20 valores ... :)
Parabéns à aluna e à prof!
Ana Cristina... gostei das suas saudades do Alentejo.
Será que todos os professores são como aqueles que a Rita descreve?
Isto não é uma crítica, sinceramente, gostei da forma e do conteúdo da sua escrita...
20 valores... Com Distinção :)
parabéns... gostei muito... tu és a melhor professora do mundo...
Essa menina, a Rita, espero que venha a ser Ministra da Educação, com a idade dela sabe mais do que muitos mentecaptos ligados ao ministério. Adorei o texto até porque a minha irmã é professora e está "perto" - na Madeira.
Boa noite!!
menosprezar os alunos é o maior "pecado mortal" que podemos cometer. Parabéns...já agora, deixa-me que te diga que és mais forreta com a nota do que eu..
Estou impressionada com o texto... Parabéns à Rita e a muitos dos profs dela.
São sem dúvida estes comentários de alunos que nos fazem dizer com orgulho "Sou Professor".
Muito Obrigada a todos pela visita...
Vou passar mensagem à Rita para ela ter real noção do que escreveu...
Pedro Oliveira: Crítica aceite. É lógico que não são todos assim... Ela própria teve professores no ano anterior e este ano que a desiludem... o que importa é que ela tem a noção de que alguns até são bons profissionais, apesar de tudo!
Greensky: Quem me dera que ela fosse Ministra da Educação... Pelo menos, alguém dinâmico estaria lá no edificio!
Miguel Sousa: eu sou prof de Biologia e não tive nada a ver com a nota da Rita!
Tit: Eu digo com orgulho... ADORO SER PROFESSORA!
Ana, peço desculpa pela minha gravíssima gralha...estou desculpado??
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