Câmara Municipal e Escola

Sempre ouvi dizer que a minha liberdade acaba onde começa a liberdade do outro...
E sempre com esta base, fico a pensar: até que ponto é que alguém tem que abdicar da sua opção política só por estar à frente de um Conselho Executivo?

A única resposta que encontro é: só tem que abdicar se o Executivo Camarário for pouco responsável e ignorante... Assim sendo, parece-me que quem coloca entraves ao funcionamento normal dos professores e "manda bocas descabidas" sobre o seu trabalho com os miúdos não está a fazer um bom trabalho... E deveria preocupar os seus municípes, certo?

Salazar...

Na sequência d' "Os Grandes Portugueses", cruzei-me novamente com Salazar... desta vez, sob a forma de um livro de Felicia Cabrita. Nesta apresentação, que ocorreu na Biblioteca Municipal de Almodôvar, ficou-me uma única ideia INFORMAÇÃO.

É preciso informar, é preciso contar o que se passou há anos atrás, é preciso que os mais novos e o pessoal da minha idade saiba quem foi Salazar, o que fez, o que mandou fazer, a "pessoa" e a PESSOA que era... Só assim podemos evitar o tipo de problemas que a palavra Salazar faz lembrar!!

A Bela...

Num intervalo dos Grandes Portugueses, fiz um zapping rápido pelos quatro canais generalistas e "apanhei" a Clara Pinto Correia num momento especial.

Sempre apreciei esta senhora pelo seu trabalho na area da Biologia do Desenvolvimento e ontem gostei de a ouvir... A Senhora disse, entre muitas outras coisas, que seria muito bom que a Sra Ministra de educação visse o programa em causa. Queria ela que a Sra percebesse o estado em que está a nossa Educação e deixasse de bater nos professores fazendo alguma coisa de útil...

Para que se tenha uma luz sobre a ignorância da nossa população, clique aqui...

Eles e eu

Nos dias que correm invade-me uma tristeza e uma alegria tremenda.

Passo a explicar:

Se por um lado ando esgotada com os últimos dias de aulas, os trabalhos e os testes para corrigir, actividades e visitas de estudo a preparar, por outro lado vejo evoluções positivas à minha volta.

Os resultados dos testes não foram grande especialidade e alguns alunos desiludaram-me... a Primavera chegou a passos largos e cada vez mais se nota isso nos resultados obtidos. Valores mais altos se levantam... paixões, amigos coloridos e afins.

À medida que o tempo passa, sinto-me a puxar a carroça sozinha... Há coisas que não andam se eu parar... Sinto-me isolada e triste com a situação. Mas sei que a minha capacidade de organização e trabalho não é partilhada por muitos professores.


Do outro lado dos meus sentimentos está uma alegria imensa que só existe porque estou nesta escola há três anos, ou seja, tempo suficiente para ver evoluções, para ver maturidade, para ver aquele mau aluno a transformar-se num miúdo impecável e bem-educado.

Os professores, às vezes, preocupam-se demais, prevendo um futuro miserável aquele aluno com um comportamento menos adequado, no entanto, eles têm a capacidade de nos surpreender e ainda bem por isso. Esta última semana foi exemplo disso, aqueles dois alunos (entre outros) cresceram... Eram putos irrequietos no ano passado mas já são homenzinhos este ano. Gostei especialmente do J., ontem... Um dos miúdos mais sinceros e honestos naquela turma...

Em breve saírão daqui e farão o seu futuro algures... Mas ficarão sempre no meu coração, porque cada pessoa de quem gostamos nos marca de forma diferente... E eu tenho orgulho em dizer que foram meus alunos, apesar de me zangar com eles imensas vezes....

Portugal = EUA ??

Portugal ainda não chegou a este ponto, penso eu!

No entanto tenho medo que seja esta gente a tomar conta da política mundial...
E tenho medo que os Portugueses imitem tudo o que este país exportam...

Mal-entendidos!

O que caracteriza o mal-entendido é o seguinte: aquilo que para um é importante, é insignificante para o outro, mas no sentido de que, no fundo, as duas pessoas estão separadas por uma bagatela; estão desunidas no seu mal-entendido porque não arranjaram tempo para começarem a entender-se.

Soren Kierkegaard, in 'Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra de Escritor'

Isto é completamente verdade... com muita tristeza minha!

Numa reunião, fiz um comentário muito sincero quando disse que achava óptimo os alunos reclamarem os seus direitos, falarem de sua justiça, colocarem em causa o que acham mal, serem sinceros e não maldosos... No entanto, uma colega, a quem os alunos andavam a colocar muitas questões inconvenientes, considerou que eu a estava a desrespeitar, a desautorizar porque os alunos conheciam a minha posição, a entrar em confronto...

Parece que ficou chateada! E eu fiquei chateada por não me ter feito entender!!

Por uma bagatela!

O Gato fala...

Ele diz o que a maioria de nós refila mas não se ouve...
Recomendo a leitura... mesmo que não se goste de Gato Fedorento!
A crítica aos últimos acontecimentos que envolvem professores é o mote!!

Retrato dos nossos alunos??

A criancinha quer Playstation. A gente dá.

A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.

A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate.

A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas tantas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha.

A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente.

A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.

A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua.

Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher.

Desperta.

É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.

A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada.

A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira.

A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca».

Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal. Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».

A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».

Não é este um fiel retrato da realidade??

recebido por mail

Ontem e hoje...

Antigamente...

Antigamente, quando eu era miúda adolescente, zangava-me com o meu pai porque ele não me deixava ir nesta ou naquela visita de estudo, ficava triste porque o dinheiro não chegava, e os meus professores seleccionavam os alunos pelo comportamento para que fossem retirados os que estavam a mais...

Hoje em dia...

Hoje em dia, os professores esforçam-se por encher um autocarro e minimizar as despesas, exige-se metade do dinheiro para garantir que eles confirmem de facto a sua ida... no entanto, arrisca-se a requisição de um autocarroo de 52 lugares para levar 15/20 'gatos pingados'... além disso, os professores falam em quantias altas e os alunos respondem: SÓ?... e os professores ficam boquiabertos!

Ontem fui ao Conselho Executivo, com a M., tratar de uns assuntos e fiquei lá presa numa conversa (fico quase sempre :D).

Estavam lá as colegas -presidente e vice-presidente- e uma colega-inspectora que, a propósito de uma conversa pessoal, nos "alertou" para o ciclo SUCESSO GERA SUCESSO e para a necessidade de motivação dos alunos.

Do ponto de vista teórico concordo com TUDO o que a senhora disse... mas a minha realidade diz-me também outras coisas, nomeadamente que a motivação nem sempre atinge todos os alunos por mais que um professor se esforce...

Eu até acho que sou uma boa motivadora (modéstia à parte), no entanto há alunos que "perdi"... Essas perdas têm unicamente a ver comigo?? Não creio! Assim como também não creio que o PROFESSOR esteja a ser visto como está só por causa de uma minoria que fez e faz asneiras...

Se calhar aquela pancada nos professores do Porto veio alertar a sociedade... e dar-nos alguma razão! Talvez!!....

Alunos de 11ºano

Uma das coisas que me esforço por incutir nos meus alunos é o espírito crítico em relação a tudo e todos... começando pela própria turma.

No outro dia, cheguei à sala de uma das minhas turmas e os alunos estavam zangados uns com os outros por causa de uma planta da sala que eles próprios fizeram. [Alguns alunos desta turma de 11º ano portam-se como miúdos pequenos e perturbam constantemente as aulas e, com o objectivo de se alterar a situação, eles fizeram uma planta que respeitasse os seus gostos e ao mesmo tempo evitasse conversas cruzadas.]

Deixei-os discutir à vontade...

No entanto, quando pude intervir, fiz questão de lhes 'dar um sermão'... Não foi um sermão... Foi uma conversa sob o ponto de vista do professor... aquelas verdades que a gente às vezes tem que dizer... Sobretudo, as personalidades mais ou menos vincadas de alguns e a necessidade de pensar com a própria cabecinha de outros, afastando-se ou não dos problemas... até porque alguns destes meninos queixam-se dos amigos aos adultos mas não tomam qualquer atitude!

Isto levou-me a pensar que com a idade deles eu já tinha sido "traída" pelos amigos muitas vezes... e já andava com os olhos bem abertos!