Mesmo sujeita a sofrimento do género morte de familiares próximos é-me muito díficil chorar... Não faz parte de mim perder o controlo, mantenho com facilidade o sangue frio... Depois vou a baixo. Mas só depois!
Na terça-feira, uma aluna tentou o suícidio sem a mínima justificação (ontem ainda ninguém sabia o porquê). As colegas receberam uma mensagem muito estranha e deram o alerta. Essas alunas e algumas professoras entraram em pânico e foram à procura da miúda.
Depois de ter sido chamada para participar na "busca" por uma destas colegas, mantive-me firme e fiquei na escola. Achei que era importante estar ali com as alunas que choravam copiosamente. Achei que a minha presença era essencial no sentido de acalmar aquelas crianças e tentar ajudá-las a perceber o que se estava a passar com a colega.
No entanto, ainda hoje, não entendo o que levou uma miúda, mimada pela família, com bons resultados na escola, com um grupo de amigos forte e unido, a tentar terminar com a vida.
Obviamente que foi uma chamada de atenção.
Mas terá sido só isto?
Ou terá sido influência de alguma série televisiva que anda a entrar demais nos hábitos das nossas crianças?
Há coisas que definitivamente não entendo mesmo que isso signifique que sou uma pedra de gelo e uma delas é perceber como uma miúda que tem tudo quer acabar com tudo...
Na terça-feira, uma aluna tentou o suícidio sem a mínima justificação (ontem ainda ninguém sabia o porquê). As colegas receberam uma mensagem muito estranha e deram o alerta. Essas alunas e algumas professoras entraram em pânico e foram à procura da miúda.
Depois de ter sido chamada para participar na "busca" por uma destas colegas, mantive-me firme e fiquei na escola. Achei que era importante estar ali com as alunas que choravam copiosamente. Achei que a minha presença era essencial no sentido de acalmar aquelas crianças e tentar ajudá-las a perceber o que se estava a passar com a colega.
No entanto, ainda hoje, não entendo o que levou uma miúda, mimada pela família, com bons resultados na escola, com um grupo de amigos forte e unido, a tentar terminar com a vida.
Obviamente que foi uma chamada de atenção.
Mas terá sido só isto?
Ou terá sido influência de alguma série televisiva que anda a entrar demais nos hábitos das nossas crianças?
Há coisas que definitivamente não entendo mesmo que isso signifique que sou uma pedra de gelo e uma delas é perceber como uma miúda que tem tudo quer acabar com tudo...
10 comentários:
sem a mínima justificação ... aos olhos dos demais.
Não te esqueças... aos olhos dos outros.
Para ela, há um motivo, um porquê, uma razão, certamente. Para nós, que analisamos o que achamos mais importante - as notas, os amigos, a família - pode parecer que não. Para ela, outra qualquer coisq, pode assumir proporções incomensuráveis...
Essa das chamadas de atenção...sei não. A autocomiseração nunca me foi muito convincente. Também não sei quanto próximo esteve de conseguir... o importante é que não conseguiu! E que precise de ajuda profissional. Não sejam amadores com tal temática, sff
Beijo à professora que soube sê-lo quando era importante.
Parabéns pelo sangue frio. Não sei como reagiria nessa situação.
Aos olhos dos outros, a nossa vida é sempre perfeita ou quase... Mas só nós vivemos no nosso mundinho, só nós conhecemos as nossas angústias...
Espero que a menina recupere e perceba que vale a pena lutar e aprender a viver...
Beijinhos, Sara
olha muitas vezes quando se tem tudo ou se acha que tem tudo a vida perde interesse ... uma amiga minha assistente na faculdade economía do porto, média final 18, bonita, namorado muito fixe, os pais deram-lhe tudo, super divertida um dia tambem suicidou-se ... na carta só escreveu tenho tudo menos o mais importante ..ser feliz.
Por isso cada pessoa pode ter razões ocultas e ninguem perceber, no entanto é dificil entender o desespero para fazer um acto deste tipo.
Fizes-te muito bem estar junto do grupo e de quem precisava nessa hora.
bjs
Ana
arrepiei-me de ler o texto q escreveu. tb sou professora e no mês passado aconteceu-me o mesmo.
Fiquei apavorada quando ao tentar iniciar uma aula no 1º tempo da tarde, uma aluna se aproxima de mim apavorada e me mostra uma mensagem no seu telemóvel. Li e olhei para os outros 27 q tinha à minha frente. Dizia "Estou farta. Vou matar-me. Adeus amiga."
Não posso sequer descrever o q senti. Pedi a duas amigas (isto num 7ºAno) para irem imediatamente ao CE chamar alguém, pois naão podia deixar 27 alunos sozinhos. Fiquei em pânico, mas lembrei-me q podia sempre contactar a família (o q receei fazer).
As míudas voltaram:"Stora, não está ninguém, o que é q fazemos?".
Todas as dúvidas se desvaneceram: peguei no meu tlm e liguei à mãe. Tentei não ser demasiado violenta na forma de lhe dizer, mas pedi-lhe q fosse à procura da filha. A Sra estava a trabalhar e respondeu-me simplesmente: "Quer lá ir a Sra Professora? Eu não posso! A minha filha tem uma depressão e tem de se curar. Acabou de sair daqui, almoçou comigo, foi para casa."
Acho q naquele momento, deixei de funcionar racionalmente. Em pranto, no corredor à porta da sala, respondi:"Eu sou mãe e se qualquer um dos meus filhos ameaçasse o suicídio, como a sua acabou de fazer, o mundo simplesmente parava para mim. A sua filha é só minha aluna, mas neste momento sinto-a como mais q isso. Se quer q deixe 27 q tenho dentro da sala para a ir procurar sou bem capaz de o fazer, porque não poderia viver com este desgosto. A Sra deixe-se ficar onde está, atrás da sua secretária, pq, pelos vistos os seus papeís são bem mais importantes q a sua filha."
Desliguei o tlm e imediatamente procurei alguém q me ficasse com os alunos, uma vez q agora não os podemos deixar sair da aula. Ninguém! Hora de almoço!
Depois de muitas tentativas para o tlm da aluna, lá conseguimos q aparecesse na aula. Senti-me aliviada, mas não conseguia deixar e ouvir as palavras daquela mãe.
Senti-me aliviada porque a tinha ali.
No fim, conversámos um pouco. Não se abriu. Sempre com um sorriso foi camuflando o sofrimento. Pedi-lhe q se agarrasse às amigas, q não voltasse a sair da escola, q visse em mim uma confidente se sentisse necessidade de conversar. Sorriu e saiu.
Liguei à mãe q continuava no serviço: "Fique sossegada q ela está na escola! Está com as amigas! Prometeu-me q ficava!"
E ficou, até cair para o lado na aula seguinte com uma overdose de comprimidos q tinha ido tomar a casa. A mãe sabia q ela o ía fazer. Disse-mo no dia seguinte quando me ligou para avisar q a filha afinal, ao contrário do q eu lhe tinha dito, estava internada. Senti o céu cair-me em cima e lembrei-me do sorriso dela. A Sra acrescentou: "Agora já está bem! Fez uma lavagem ao estômago e pode ser q tenha aprendido a lição! Para a semana volta à escola." Só consegui responder:"Do estômago está bem! E o resto? O estômago trata-se! E as emoções, o sofrimento, a dor que uma mãe não consegue perceber? Não, a sua filha está muito mal e precisa de ajuda. ela está tudo menos bem!" Resposta:"Quer q contrate um polícia para tomar conta dela?"
Resolvi não continuar a conversa, não aguentei. Chorei durante dias e noites. Senti-me culpada por nada ter feito! Por não ter percebido! senti-me responsável. Quiz substituir aquela mãe e envolvi-me emocionalmente em algo com q não consigo lidar. Consegui um desabafo, o sorriso foi substituído pelas lágrimas e, no final da conversa, ouvi q há outras maneiras: armas, janelas altas, etc..
Continuo em pânico! A mãe serena!
Como a compreendo colega!
Mas é a nós q a Sra Ministra agride e insulta. Coragem para estarmos com os nossos alunos quando não há pais capazes!
Testemunho impressionante.
Fiquei comovida. Acho que, realmente, fazem muito mais muitos professores que muitos pais... mas dos pais pouco se fala (a não ser quando conseguem "matar" os filhos e são notícia na TV. Ana... há razões que a razão desconhece. O ser humano é tão complexo. Assustadoramnete complexo...
É provável que estes casos sejam chamadas de atenção, mas isso é irrelevante. Tentativa para resultar ou para chamar a atenção significa sempre que a criança ou jovem está em risco. O testemunho sobre essa mãe, aqui dado, é arrepiante. Mas eu reforço o apelo de Tsiwari para estes casos: não ficar pelo apoio amador, embora ele seja fundamental em cima do caso, essas crianças precisam de apoio profissional, mesmo que comecem só com chamadas de atenção, e sobretudo quando a família acha que não há razão porque "ela tem tudo".
Quando não se é feliz...o ter tudo não é importante...
Mas também o suicidio não é a solução...
Muitas vezes não têm a ajuda dos Pais...e têm vergonha dos amigos...Muitas vezes pensam que não são compreendidas...
A mente das pessoas é muito complexa...
fica bem
E ainda dizem que os professores não dão tudo por tudo para a escola.
Eu tentei suicidar-me quando tinha 14 anos e nada me revolta mais do que a expressão "só chamar a atenção". Para começar, o facto de falhar um suicídio não quer dizer que se falhe de propósito e depois se alguém se arrisca a morrer para chamar a atenção para a sua infelicidade é porque é mesmo muito infeliz. Hoje em dia sou professora e já tive 2 suicídios falhados e uma morte por suicídio entre os meus alunos. A rapariga que morreu nunca chorava nem se mostrava triste e sorria constantemente. Depois soube que era a sua segunda tentativa. Da primeira pensaram que estava a "chamar a atenção"... Ela morreu em casa, não na escola; se fosse comigo não sei que faria. Mas dou um desconto a mães como aquela, apesar de tudo. Ao fim de anos de tentativas de suicídio os familiares começam a resignar-se. O mal é esse: toda a gente se resigna, toda a gente acaba por entrar na rotina. Eu própria estou farta de pedir ajuda, porque estou à beira do suicídio outra vez, e ninguém se importa. Nem sequer há qualquer tentativa de apoio. Ao menos quando era adolescente o meu suicídio incomodava alguém, há montes de gente a trabalhar com suicídio de adolescentes. Agora posso-me matar tranquilamente, ninguém se vai importar.
Não seja ingénua, por favor! Quem se tenta suicidar, não tem tudo...!!
Faça formação em psicologia...
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