Lema de Vida:

Aprender até morrer, morrer sem nada saber!!

domingo, maio 14, 2006

O menino de sua mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece

Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mão. Está inteira
É boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece")
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe.

Fernando Pessoa (1888 - 1935)

4 comentários:

Hindy disse...

Belo poema! :)
Beijinhos

Teresa Martinho Marques disse...

Lindo!
Bjs

Anónimo disse...

Colega,

Desde há alguns meses que o Centro de Competência CRIE da ESE de Setúbal (nonio.ese.ips.pt) destaca um blogue educativo por semana.

Esta semana o nosso Blogue da Semana é o seu "vida de professor".

Continue a partilhar connosco!
João Torres

matilde disse...

Muito bonito o poema... Conheci-o pela voz de Mafalda Veiga ;)
Por falar em Mafalda Veiga... coincidências interessantes... ontem (melhor... já hoje...lol) deixei a letra de uma das suas canções lá no meu canto.
Bjnhos e Boa semana